29 de jul. de 2007

Inversão.

Estávamos muito bem. (explosão...) Apesar do frio, do gelo, da névoa, estávamos bem. Apesar da falta de dinheiro, do abandono, da solidão, estávamos bem. Dançamos na sala. Mesmo com todo o frio e empacotados, dançávamos na sala. Era uma alegria simples e bonita de se ver. Ela sorria sinceramente, um sorriso daqueles onde o rosto inteirinho ri, não somente a boca amarelamente ou os olhos falsamente. Meu preferido, o conjunto: Sinceridade. Esse é o soriso-de-sempre de minha mãe. Não sobra espaço pra outros tipos de sorriso nela. Eu tentava fazer com que ela não telefonasse. Não telefonasse... Não telefone! Insistiu, ligou.

O frio, o gelo, a névoa, a falta de dinheiro, o abandono, a solidão, a hipocrisia. Todos venceram nossa alegria após o telefonema. Coitado do interlocutor. Pobres de nós. E viva os Egos Indestrutíveis e o Individualismo Barato! Mentira. Agora o que nos toma, a mim e a ela, mais uma vez, e como tem sido comumente, é a tristezazinha de sempre... Graças à hipocrisia, às inversões, aos telefonemas. Quisera eu não ter telefones. Interlocutores. Aniversários. Visitas. Domingos. Inversão! Podia ser só o frio. Um Cobertor. Um Minestrone. Um Chocolate. Uma dança, alegria simples. Um Sorriso. Sorriso que vem envelhecendo em alta velocidade há dezesseis anos, e não por acaso. Inversão! Sangue que tem sido dado. Em troca: descaso.



'Mas...'



Quieto. Não há espaços para ilusão, aqui, neste apartamento.

24 de jul. de 2007

Um Jazz inaudito.

A cada dia me desfaço de mais um pedacinho de mim.

Me livrando disso tudo quem sabe não vai junto este - eu mesmo?

Agora alegorizo com meu saxofone lamúrios que ninguém pretende ouvir. Já me deram o saxofone para que eu não falasse, e hoje nem mais seu som é suportado. Já foi encantador de serpentes... As grandes majestades se reuniam para assistir ao jazz de inaudita beleza. Hoje, as majestades e suas potestades se deliciam com suas máquinas internas - Ah, belo ego! - e rogam, rogam por silêncio (d'outrem, para poderem se ouvir melhor).

Quando houver só e realmente o silêncio, a voz daquele, os sons deste ou os sussurros do que virá serão lembrados?

A cançãozinha de uma caixinha de música, presente que era o mais querido... Essa sim, não se esquece.

A cançãozinha medíocre. antiestética. monofônica. metálica.

A caixinha chinesa, a R$ 2,00 (já que não se pode contar com o troco). A caixinha que toca a alma, e que custou míseros centavos... Com os quais muitos nem podem contar... Nem podem contar.

E nós, com o que podemos contar, afinal?

Eu, por exemplo, só tenho este inaudível, sôfrego, desgostoso, desgostado, inarticulado, psicossomático, disfórico... jazz inaudito.

Inaudito de incompreensível que é, que foi.

7 de jul. de 2007

Bola de Meia, bola de gude...

Sinto falta de músicas brasileiras como as do Boca Livre... como é pouco visível na "nova MPB". É crítica. É poesia. Não comércio. É música de fazenda, de manhã-na-roça, de menino-que-acorda-cedo, passa na cozinha, pega um pedaço-de-bolo-quente e vai correndo pelo campo se banhar no riacho. É lindo:

"Uma casa antiga e um pé de flor na porta
E os meninos soltos pelo laranjal
Mariana e Gabriela, dois sorrisos
Timidez guardada em renda e chita azul
Alecrim, manjericão, camélia, flor e flor
Meigamente Mariana espera seu amor
Manga-rosa, carambola, jambo, fruto bom
Gabriela meigamente inquieta floração
Uma casa antiga assim como a Tartária
E os meninos soltos pelo mundo seu
Dois sorrisos Gabriela e Mariana
Doçura guardada em renda de algodão
Manga-rosa, carambola, jambo, fruto e flor
Meigamente Mariana esconde seu sabor
Alecrim, manjericão, camélia, floração
Gabriela meigamente, inquieto coração
Uma casa antiga, alegre e avarandada
Guarda seus meninos, corpo protetor
Mariana e Gabriela agora dormem
Feito num quintal repousam, fruto e flor."
As moças.

(Dá saudades de uma certa tranqüilidade que nunca viví ou viverei.)

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Coragem. 23. La Fontaine. Cristina. Crépe. Sensação. Saudade. Apelo. África. Pena. Celular. Coralie. Calvino. Vieira. Bozi. Candido. Zular. Contou. Literatura. Jurista. Quorum. Aedibus. Comarca de São Caetano do Sul. Menina. Brumas. Cozinha. 45. V. Lyly. Laranjas. tristeza. Tampa. Mistura. Massa. Não importa! Dentes. Prata. Texugo. saudade. Teixeira. Villares. Appolinaire. Dada Voltaire. Ampère. Don't worry. Baby. Blogues e blogues. Dejá vù. Je suis. Tony. Fredy. Luciana. Virgínia. Perfume. Paulo. Cinema. Refrescante. RI Solidão. Maiakovski. Swarovski. Fermipan. Linha azul. Benedito Calixto. Buraco do Metrô. Jaca. Bar. Inferno. Soluços. Me deixe! Limão. Balcão. Mesa. Dança. Grupo. Fechecleres. Silence. Roupa Nova. Dedo. Perdão. Bolo pernambucano. PSS-50. Milla. Preto preto preto. Saudade. Gata. Arisca. Vênus de Ille. Loucura. Fantasia. Desencontro. Criptografia. XP! Farsa malcriptografada. Injúria. O Livro do Setor. Bozo. Falta. Sorriso. Buarque. Afastamento. Vive la fête Neosaldina. Ciúmes. Intriga. Mon cher. Alegria. Forca. Zé-Bolinha. Novas regras. Revolução Fretadiana. Verde. Vermelho.

5 de jul. de 2007

Cave Amantem...

"Seja como for, é impossível ver alguma coisa mais perfeita do que o corpo dessa Vênus, algo mais suave, mais voluptuoso do que seus contornos, algo mais elegante e mais nobre do que o seu drapeado. Eu estava esperando uma peça do Baixo Império; e vi uma obra-prima da melhor época da estatuária. O que mais me impressionava era a primorosa verdade das formas, de modo que dava pra pensar que eram modeladas pela natureza, se a natureza produzisse modelos tão perfeitos.

A cabeleira, repuxada sobre a fronte, parecia ter sido, antigamente, dourada. A cabeça, pequena como a de quase todas as estátuas gregas, estava ligeiramente inclinada para a frente. Quanto ao rosto, jamais conseguirei expressar a sua estranha aparência, e cujo tipo não se aproximava de nenhuma estátua antiga de que me lembrasse. Não era essa beleza calma e austera dos escultores gregos, cuja regra era dar a todas as feições uma imobilidade majestosa. Aqui, ao contrário, eu observava surpreso a intenção manifesta do artista de reproduzir a malícia chegando às raias da maldade. Todas as feições estavam levemente contraídas: os olhos meio oblíquos, a boca alteada nos cantos, as narinas um pouquinho inchadas. Porém, nesse rosto de inacreditável beleza liam-se desdém, ironia, crueldade. No fundo, quanto mais se olhava para essa estátua admirável, mais se tinha a penosa sensação de que uma beleza tão maravilhosa pudesse se aliar à ausência total de sensibilidade.

"Se o modelo existiu um dia", disse a Monsieur de Peyrehorade, "e duvido que o céu tenha jamais produzido uma mulher dessas, como sinto pena de seus amantes! Ela deve ter se deliciado em fazê-los morrer de desespero. Há em sua expressão alguma coisa de feroz, e no entanto jamais vi nada tão bonito."
(fragmento de "A Vênus de Ille", Prosper Mérimée)

3 de jul. de 2007

Estética...

Movimento Negação da Negação.
Eles conseguem ter uma diagramação tão bonita... E têm estilo ao vestir (chiques...)
Podiam deixar de lado o Stalinismo e montar uma grife... (Acredito que nunca fariam isso... ou fariam? Enfim...)


(Não que eu simpatize com a MNN!, é apenas um comentário sobre a estética...)