30 de jan. de 2008

Resumo de Janeiro (pt. 1)

Um Mês de Alegrias.

25 de jan. de 2008

Se chovesse todo dia!

A árvore amanheceu em festa.

Dezenas de passarinhos, dos mais variados,
Comiam as frutas que brotam das chuvas
que cairam ontem.

Cantavam enquanto
a água farfalhava as folhas,
movimento simples.

Ocupavam seus bicos com as frutas,
vermelhas, fora de época.

Ternuras...

Lembraram meus irmãos
E um pacote de chiclete,
Correndo pela sala de minha avó.

23 de jan. de 2008

Quem veio primeiro: o título ou o texto?

Ia escrever um post bem interessante, algo reflexivo, interno, profundo, com diversos matizes e tons e cores. Desisti. Desisti porque quando cliquei no campo título para escrever o título, escrevi três caracteres "Tud" e então resolvi clicar embaixo, aqui mesmo, no nosso "papel em branco digital", o campo onde o texto flui, para escrevê-lo, sem pensar no título. Aí que me veio a estranha sensação de que o texto já tinha um nome definido e eu estava mudando o rumo dos fatos. E a sensação de que escrevendo o título primeiro eu estaria realizando uma auto-coerção. O texto não teria exatamente um tema específico, gostaria aberto, então o título seria realmente repressivo aos meus pensamentos. Mas e o pensamento do título-frase que me veio à mente quando idealizei tal texto?

Nesse "escrevo o texto ou crio o título", me pus a pensar. Quantos textos escrevo os títulos primeiro, antes de desenvolvê-lo? Em Diagonal, o diagonal surgiu no final. Em Ali. Sépia, o título veio de uma contemplação posterior... E na maior parte também.

Ficou a dúvida e a pergunta que gostaria de compartilhar com vocês:

Quem veio primeiro: o título ou o texto?


O título nasceu na frase acima. E sorrindo.

20 de jan. de 2008

Canção do exílio

É verdade. Andei meio sumido.
Mudei de casa, mulher, amigos.
De repente, a barra ficou pesada
e não foi fácil encontrar abrigo.

Recolhi meu time de campo,
tresli versos de Drummond:
- Fique torto no seu canto.
Confesso que até foi bom.

Levei a vida de um clandestino,
no começo, doeu pra burro.
Depois compreendi: meu destino
era caminhar pelo lado escuro.

Fui posto em xeque, à prova
concha ambígua do ostracismo.
Mas, construí uma vida nova
sem rancor, surto, onanismo.

Hoje, novamente, me recifro,
nesta antiga canção do exílio.
Sob o forte sol do isolamento,
viso os territórios do princípio.

Augusto Massi

A Chuva.

É uma linda música.

19 de jan. de 2008

Supernovas, Esmeraldas.

Meu próprio colapso se misturou a teus movimentos,
minhas palavras se embaralharam em tua boca.

Teus passos se transformaram em meu ritmo,
teu corpo meu diapasão, teus olhos, meu mar,
esmeraldas.

Teus ouvidos, minha boca.
Tua expiração, minha inspiração.
Tua mente, meu pensamento.

Teu próprio colapso se misturou a meus movimentos,
tuas palavras se embaralharam em minha boca.

Passeei largamente por
passarelas de entardeceres,
toques singelos, olhares.

Olhei para um céu de supernovas
e me embebi de teu reflexo num mar,
esmeraldas.

Olhei para um céu de esmeraldas
e me embebi de teu reflexo no mar:
Supernovas.

18 de jan. de 2008

Cheia.

Janeiro virou mês de cheia.

Ê vida cheia... Cabeça cheia.

15 de jan. de 2008

Um pequeno monólogo para teatro.

São 23h00 e me deu sono.

Mas eu precisava dizer que são 23h, porque são.

Meu relógio diz que são 23h e eu acredito nele.

Segundo o horário de Brasília, são 23h, no horário de verão.

Horas, horas, horas.

Queria um mundo sem relógios.

Sem relógios, sem relógios, sem relógios.

Impontual, impreciso, inesperado...

Sem horas, sem horas, sem horas.

Sem espera. Espera... Espera...

Ainda bem que o que vem sempre é o inesperado.

Não é.
Oras. Que horas são?
Porque repetir, repetir e repetir?

Já são vin-te-três-ho-ras.

E o esperado é que o menino vá dormir.

Vai dormir, vai...


Vai dormir, menino.

Vou, porque já são 23h. Leia bem, vin-te-três.

e três, e três, e três, e três, e três.

É a hora do trem das onze. que passa e faz tchetchec, tchetchec, tchetchec, tchetchec. E o menino, vejam bem, menino, desce. E vai para casa. Porque é tarde, já, tarde, e, coitado, tem, é, tem que.

Vai logo.

Vaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaai.

Não sei porque tanto esforço em se fazer / me fazer / fazê-lo / fazer ir.

Acho que foi, fui. Estava com sono. E eu não resisto muito ao sono, sabe-como-é.

Isso podia se chamar escalafobético. É, um ótimo nome... Acho que vou estampar em vermelho e verde isso em todas as minhas camisetas e camisas. A minha cara.

Hum, tenho amigos com quem outros termos combinariam melhor.

tem um que seria, Espertalhão. assim, sem artigo nem mais nada, porque ele não precisa. ele é muito bom no que faz.

Ainda bem que, tirando um certo f, a gente não dá nome pros amigos. se desse metade deles não seriam mais, hoje.

Isso se chama psicopatologia. E grave.

Por isso que o menino tem que dormir.


O Menino

Tem

Que

Ir

Dormir

E

Dormir.

E acordar daqui uns anos

Olhar pra trás

E pensar

Como foi bom

Poder dormir

e deixar passar

o sofrimento

da juventude

daqueles anos

que graças a Deus

(e ele acredita)

não voltam mais

a não ser em sonhos

que o atormentam

todas as manhãs

tardes

e

noites.


Então o Pierrot se deita no canto do palco, e inicia-se o primeiro Ato.

12 de jan. de 2008

Lighthouse Family

É uma das poucas bandas de que gosto, assim, profundamente, sem restrições. Sejam os clipes, as músicas ou as letras, tudo merece uma apreciação delicada... Abaixo alguns trechos de algumas músicas que de alguma forma têm me tocado, por esses dias...

Ain't no sunshine when she's gone
It's not warm when she's away
Ain't no sunshine when she's gone
And she always gone too long anytime she goes away

Wonder this time where she's gone
Wonder if she's gone to stay
Ain't no sunshine when she's gone
And this house just ain't no home
Anytime she goes away

***



Sometimes I get tired
of this "me first" attitude.
You are the one thing
That keeps me smiling.
That's why I'm always
wishing hard for you.
Cause your light
shines so bright
I don't feel no solitude
You are my first star at night
Id be lost in space without you

And I'd never lose my faith in you
How will I ever get to Heaven, if I do...


***



How many times you gonna let me down?
You're keeping me hanging on I say
I'm wrapped around your finger
Never believed that if I find myself
Looking up to the upper hand and
Loving every minute


***



Don’t wanna complain, the weather could be worse
But I wish I’d learned from my mistakes
Don’t really need no clever words
To understand what’s in your face

***


Got a picture of a glorious day
A sunny afternoon, somewhere with a view
And I don't care what its all about
As long as I'm with you

***

You don't have to change the way you are
I really don't think you're giving yourself a chance
I wish you could hear someone who says
Baby, don't change, baby, don't change
Do your own thing, you're beautiful the way you are

You really don't
You don't have to change
Give yourself a chance

***

I won't let it get to me
But I'm gonna miss you badly

I wish I knew how I'm gonna be happy without you
I don't know what I'm supposed to do
I wish I knew how I'm gonna be happy without you
In a different world without you

***

It's always the same
At the end of the day
You always want what you haven't got.

Redondilhas

Menores:

E a / go / ra, / Jo / sé?

A / fes / ta a / ca / bou,
a / lu / z a / pa / gou,
o / po / vo / su / miu,
a / noi / te es / fri / ou,
e a / go / ra, / Jo / sé?
e a / go / ra, / Vo / cê?

Drummond

Maiores:

Vou / -me em / bo / ra / pra / Pa / sár / gada
Lá / sou / a /mi / go / do / rei
Lá / te / nho a / mu / lher / que eu / que / ro
Na / ca / ma / que es / co / lhe / rei
Manuel Bandeira

Meus / o / lhos / te o / fe / re / ço:
es / pe / lho / pa / ra / fa / ce
que / te / rás, / no / meu / ver / so,
quan / do, / de / pois / que / pa / sses,
ja / mais / nin / guém / te es / que / ça.
Cecília Meireles

A / Se / rra / do / Ro / la- / Mo / ça
Não / tinha e / sse / no / me / não...
E / les / e / ram / do ou / tro / lado,
Vie / ram / na / vi / la / ca / sar.
E a / tra / ve / ssa / ram / a / serra,
O / noi / vo / com a / noi / va / dele
Ca / da / qual / no / seu / ca / valo.
Mário de Andrade


Agora a pergunta: O verso livre é livre de rima, mas e a métrica? E o ritmo? Claro, claro, a redondilha se aproxima da prosódia do português, mas... Se aproxima? De qual das prosódias do português? Cada dialeto possui uma prosódia, a leitura realizada por cada variante é diferente... Compreendem?

Bem, vou pensar um pouco mais sobre isso depois proponho um pensamento melhor... Por enquanto fica a apresentação da curiosidade... Mas isso vale um estudo. Quem sabe... Quem sabe...


(PS: Em poemas do Oswald não encontrei nenhum exemplo assim... Talvez seja coincidência. Talvez não.)
(PS II: Claro que eu não pensei nisso sozinho. Crítica Contemporânea Francesa pensou isso com os alexandrinos... Porque não fazemos nas redondilhas e nos decassílabos?)

7 de jan. de 2008

Eu acordei, não tem ninguém.... ao lado...



Eu ando pelo mundo prestando atenção
Em cores que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo, cores
Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção no que meu irmão ouve
E como uma segunda pele, um calo, uma casca,
Uma cápsula protetora
Eu quero chegar antes
Pra sinalizar o estar de cada coisa
Filtrar seus graus
Eu ando pelo mundo divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome nos meninos que têm fome

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm para quê?
As crianças correm para onde?
Transito entre dois lados de um lado
Eu gosto de opostos
Exponho o meu modo, me mostro
Eu canto para quem?

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

Eu ando pelo mundo e meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço?
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(quem é ela, quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle

1 de jan. de 2008

A raposa e o gato

Houve, uma vez, um gato, o qual, indo à floresta, encontrou a senhora raposa e pensou com seus botões: "Ela é muito sabida e esperta, e tem muita influência na sociedade; então, dirigiu-se a ela com toda a amabilidade:
- Bom dia, prezada senhora raposa! Como vai? Como está? Como passa com essa carestia que há?
A raposa, cheia de empáfia, fitou-o da cabela aos pés, indecisa se devia ou não responder-lhe; finalmente disse:
- Seu limpa-barbas, louco pintado, morto de fome, pega-ratos atrevido, que te deu na telha? Ousas perguntar-me como vou passando? Quem te ensinou isso? Dize-me, quantas artes conheces?
- Conheço apenas uma só, - respondeu com toda a modéstia o pobre gato.
- E que espécie de arte é essa? - perguntou a raposa.
- Quando os cães me chegam aos calcanhares, sei trepar numa árvore e pôr-me a salvo.
- É tudo o que sabes? - disse a raposa; - Pois eu possuo cem artes e ainda por cima possuo um saco cheio de astúcia. Causas-me dó! Vem comigo, eu te ensinarei como deves fazer para fugir dos cães.
Exatamente nesse momento chegou um caçador com quatro cães. O gato, mais que rapidamente, trepou numa árvore e aninhou-se no galho mais alto, ficando oculto pela folhagem, e de lá de cima gritava:
- Abra o saco, senhora raposa! Abra o saco!
Mas os cães já haviam agarrado a raposa e não a soltavam.
- Aí, senhora raposa! - ia gritando o gato - com todas as suas artes acabou caindo na armadilha; se soubesse apenas uma como eu, teria salvo a vida!
Irmãos Grimm